Ultimamente não te tenho escrito. Tens-me feito mais falta do que o habitual, achava eu que era impossivel. Já viste, avô? Parece que sufoco se não te escrever nestes dias que não passam, nestes dias de ansiedade e mudança que parecem ter vinte-e-cinco horas.
Nestes dias, que tenho precisado tanto dos teus conselhos, dos teus sorrisos, da tua alegria e força. Aqueles que me deste em tantos anos que partilhamos e que não ouvi, aqueles que muitas vezes achei dispensáveis, inuteis. Aqueles que hoje fizeram de mim uma mulher, ou pelo menos quase. Aqueles que me derem as melhores lições, que aprendi inconscientemente. Preciso deles agora, e vou com certeza precisar sempre, passem os nos que passarem. As decisões têm sido duras de tomar, a ansiedade tem criado uma confusão enorme em tudo aquilo que faço, digo e penso. E assim, não é fácil.
Uma das coisas que sempre vi em ti foi a capacidade de perdoar. Mas e agora, o que faço com ela? Afinal, perdoar vale sempre a pena? Precisava tanto, hoje, das tuas respostas, que estivesses aqui.
O meu coração, esse sei que ficou igual ao teu. Cresceu e cresce todos os dias, com vontade de amar a vida o que ela nos dá. Com vontade de perdoar os erros, aproveitar as coisas boas, ver a bondade nas pessoas. O meu coração é o nosso coração, afinal. É nosso, avô, porque eu sinto-te todos os dias comigo, sejam longos ou curtos, bons ou menos bons. É a ti que te sinto sempre no meu coração e é em ti que procuro a força que sei ter todos os dias. Nada nos vai tirar isso.
Mas estes dias, oh, estes dias cansados e confusos, fazem-me retroceder no tempo e voltar a saber menos. São contraditórios, fazem-me crescer sem aprender. Ou então ao contrário. Ou então, não fazem nada.
Não fazem nada.
E claro, vai ficar sempre qualquer coisa por dizer, talvez hoje, ou amanhã. Mas acredito que vou acabar por dizer(te) tudo. E estes dias escuros vão passar, porque afinal, estás sempre comigo.
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