Existem dias que realmente demoram a passar, demoram, muito mais do que qualquer fila para pagar num super-mercado a um domingo ou até mesmo mais do que quando estamos parados em trânsito infinito na auto-estrada.
E eu, por muito que queira afastar esses dias, nem sempre consigo. Nem sempre a vontade basta para afastar as desilusões, os pensamentos negativos, esses que tanto digo a toda a gente para espantarem, o cansaço, a desmotivação de continuar a ser assim, como sempre fui.
Levantar a cabeça e começar um dia novo, nem sempre é fácil não é? Esquecer que, neste ano que não tarda a acabar, tantas pessoas me desiludiram, tantas pessoas se revelaram de certa forma, tanta coisa mudou, avô, tanta coisa (...)
«És muito ingénua, filha. Achas que todas as pessoas são boas, mas enganas-te, as pessoas falam para nós, tantas vezes, com maldade, conseguem ser muito falsas, hipócritas.» Disse-me o pai estes dias. E nós não mudamos, insistimos em acreditar que existe um lado bom em cada uma das pessoas que nos rodeiam e que, apesar de tudo, elas vão saber compreender-nos sempre. Mas não é bem assim. Algumas pessoas fartam-se. Mudam-se. Moldam-se. Vão embora. Vão embora, muitas vezes sem dizer, são imprevisíveis, inconstantes, e nós, ah.. nós acreditamos a todo o custo que elas vão ficar do nosso lado para sempre.
Ninguém é perfeito, de facto, mas tu sabes, o quanto me tem custado carregar todo este peso de saudade e mágoa desde que tudo mudou assim. Não é que tenha deixado de ser feliz -de maneira alguma, sou, e muito- mas a verdade é que custa mesmo, ter de aceitar que as pessoas por quem faria tudo há uns anos atrás agora não me dizem nada, não porque eu quis, mas porque assim escolheram ou porque a vida não permitiu que tudo continuasse como antes.
Mas as desilusões, as desilusões custam mais nestes dias cinzentos, avô, olha que custam. E isto é um pequenino pedido de ajuda -que não duvido que ouças- para me dares ainda mais força do que dás, para continuar a lutar e a sorrir como me ensinaste. E sobretudo, para saber por de parte os sentimentos que chegam quando as pessoas que são importantes vão embora.
Dias cinzentos, que passem depressa.
Tua neta*
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