four years *

este ano gosto mais da chuva e às vezes, fecho o guarda-chuva de propósito só para a sentir.
ja viste como as coisas foram mudando, avô? e tens acompanhado a minha mudança, o meu crescimento e já agora, obrigada por me protegeres sempre, é, eu sinto que estás sempre comigo, a ensinar-me como fazer, como dizer, nestes momentos mais estranhos -para mim ainda o são- contudo, tem dias que não facilitas, que me deixas aprender com os erros e que às vezes esses erros doem, doem mesmo, e aprendo. como a lição da borboleta, que a mãe me mostrou há uns anos, é com o nosso esforço que o casulo se abre, não pode ser cortado, é com esforço e luta que se aprende e se cresce e tu, és a prova disso, como é óbvio.
desde há quatro anos para cá que escrevo sempre pouca coisa, neste mês, nestes dias. mas a verdade é que agora, passado este tempo todo, começo a aprender a lidar com a dor de te ter perdido e a suaviza-la, acreditanto que estás mais presente do que nunca, que tenho pessoas a meu lado incansáveis.
tenho-te escrito quase todos os dias, umas vezes neste meu cantinho, outras em folhas de cadernos. sabe tão bem escrever-te, já te tinha dito não já?
apesar desta tua presença inesgotável, tens-me feito (na mesma) muita falta. talvez pareça confuso sim, mas é que esta vontade de poder abraçar-te, avô, não desaparece por nada. de ouvir a tua voz, de ouvir as tuas gargalhadas.
é que as coisas mudaram tanto.
até a chuva, até a chuva parece melhor. agora compreendo, "os dias de chuva são tão bonitos como os dias de sol, ambos existem, cada um é como é."
volto a agradecer-te por isto, por aquilo, por viver assim, por ter tirado tantas lições como se a tua vida fosse um livro a sério. por ter tanta vontade para viver cada vez que me lembro de ti, meu anjo da guarda.
fazes muita falta.

mas, ás vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.