quarta-feira, 28 de outubro de 2015

"O pessoal do luto é da pesada."

Disse-me o meu orientador de tese estes dias, enquanto reuníamos. E não é que é mesmo? O pessoal do luto é da pesada. É da pesada porque sente a dor dos outros sem cair, porque ouve, vive e compreende o sofrimento que existe nos olhos de quem lhes fala, sem derramar uma lágrima, que tantas vezes dá vontade de derramar.
O nosso pessoal é da pesada. Sim, o da psicologia. As pessoas não sabem, não sabem de quase nada. Não sabem que saímos das consultas tantas vezes de coração partido e de queixo caído, e que mesmo assim respiramos fundo para continuar até à próxima sessão.
Estou no meu início. No meu grande início. Estou na fase de estágio, de aprendizagem, de novas experiências e conhecimentos. Mas nesta fase estou a aprender muito mais do que os livros até agora me ensinaram.
Na semana passada tive a minha primeira sessão com o grupo de luto e quando saí de lá pedi a Deus, ou a seja lá quem for que comande as tropas cá em baixo, que me ajudasse a nunca passar por situações como aquelas que ouvi lá dentro, com aquelas pessoas, partidas por dentro, destruídas, em desespero por ajuda e por uma mudança na vida. Mas além de pedidos, também agradeci. Agradeci por tudo aquilo que tenho, pela sorte que tenho em ter quem tenho, a minha família, com algumas mágoas mas cheia de força, amor e felicidade.
É verdade, partiu-me o coração, ouvir o que ouvi, ver o que vi, sentir a necessidade de partilha, de querer voltar a viver, daquelas pessoas que afinal tinham uma vida a que nós chamamos de comum. Limpei as lágrimas e respirei fundo, amanhã é um novo dia, uma nova aprendizagem e uma nova experiência, com a minha enorme sorte por ter a minha colega e amiga Flávia comigo, que me apoia e me suporta quando as situações são mais difíceis, por ter uma amiga e psicóloga que mesmo distante me apoia e me ajuda sempre, incansavelmente, por ter um orientador de estágio que espalha alegria e motivação, por ter os meus pais em casa, à minha espera, depois de uma dia cansativo, cheio de histórias novas.
De facto estou na minha fase inicial, mas não poderia ter uma melhor fase do que esta, não poderia perceber melhor o quanto gosto do que faço. Que afinal eu posso vir a fazer diferença na vida das pessoas, que posso ser o que tanto queria. Que posso ser a pessoa que tornou o dia de alguém melhor.
O pessoal do luto é realmente da pesada, o da Psicologia também. Nós somos da pesada. E que venham novas etapas e novos desafios, novas vidas, novos sonhos.





Sem comentários:

Enviar um comentário